quinta-feira, 30 de julho de 2015

A Divina Comédia de Dante Alighieri - Livro Inferno Canto V



 Ola, essa é uma série sobre o poema Divina Comédia de Dante Alighieri, considerado como o primeiro poeta italiano, toda semana publico um dos 100 cantos comentados, divididos em três livros ( Inferno, Purgatório e Paraíso). 

Veja os cantos anteriores: 



 Um clássico da literatura do século XVI que foi grande influência para poetas, músicos, pintores, cineastas e outros artistas nos últimos 700 anos, como Gustave DoréSandro Botticelli, Salvador Dali, Michelangelo e William Blakeiniciada, provavelmente no ano de 1307 e concluída em 1321, um pouco antes da morte do autor. Consiste em um poema fielmente simétrico, baseado no número 3. 

 Uma história épica aonde Dante vive uma aventura atravessando o inferno e o limbo para chegar ao céu, para isso conta com ajuda do poeta Virgílio e de sua amada Beatriz.
 Começou perdido em uma floresta escura e perigosa e ao encontrar a saída para a salvação se depara com três feras, um leão, uma loba e um tigre, todas com significados simbólicos que expliquei no canto I. 
 Assim, Virgílio é enviado por Beatriz para salvar seu amado. O poeta guia Dante através dos círculos do purgatório, no canto IV vimos o primeiro círculo, o limbo, local onde ficam os homem que apesar de não terem pecado não podem ascender o céu, aqueles que não foram batizados e que vieram antes de Cristo. Trecho do Canto III, aonde Virgílio explica para Dante sobre o primeiro círculo:

- Estes coitados não pecaram, mas não podem ir para o céu - explicou -, pois não foram batizados. Estão aqui as crianças não batizadas e aqueles que viveram antes de Cristo, como eu. Aqui não temos sofrimento, mas também não temos nenhuma esperança.

 Podemos notar facilmente que o pensamento sobre o que é certo ou errado, sobre o é pecado, mudou com o decorrer do tempo, não ser batizado não é mais visto da mesma forma. 

 Agora, vamos ler o canto V, os trechos em itálico e em vermelho são minhas anotações:

Minós - Círculo da luxúria (2)Espíritos de Paolo e Francesca


Assim que entramos no segundo círculo, lá estava Minós, rangendo terrivelmente. Ele ficava na entrada e recepcionava os pecadores, julgando-os um por um. Ouvia suas confissões e proferia a sentença, se enrolando na própria cauda. O número de voltas que dava a sua cauda indicava quanto deveria descer o pecador para o seu lugar nas profundezas do inferno. Uma grande multidão se amontoava diante daquele juiz. Cada pecador falava, ouvia sua sentença, e era atirado no abismo.

Minós: Na mitologia grega, Minos (em grego: Μίνως) foi um rei semi-lendário da ilha de Creta, filho de Zeus e da princesa Europa, sua esposa é mãe do Minotauro. Teria nascido em cerca de 1 445 a.C. e reinado de 1 406 a.C. a 1 204 a.C. (segundo a Crônica de Jerônimo de Stridon). Há diversas variantes de seu mito, tendo em algumas dela a existência de dois Minos. Depois de morto, desceu ao mundo subterrâneo onde se tornou um dos juízes dos mortos. No inferno de Dante, Minós ouve as confissões dos mortos (que sempre dizem a verdade, pois não têm mais o dom do intelecto) e os designa a um círculo e subcírculo específico de acordo com a falta mais grave relatada.

- Ó tu que entras no asilo da dor - disse Minós ao me ver, interrompendo seu ofício -, vê bem em quem confias e como entras aqui. É fácil de entrar, mas não te enganes!

- Por que gritar? - respondeu Virgílio ao juiz dos mortos - Não podes impedir esta jornada, pois lá, onde tudo o que se quer se pode, isto se quer e não peças mais nada!

Minós se calou, e nós prosseguimos. Pouco a pouco comecei a perceber sons tristes, muito pranto e lamentos. Neste lugar escuro onde eu me encontrava, o som das vozes melancólicas se assemelhava ao assobio do mar durante uma grande tormenta. Os tristes sons emanavam de um enorme redemoinho. Eram almas sofredoras, sacudidas pelo vento que nunca cessava. Entendi que era o castigo pela transgressão da carne, que desafia a razão, e a submete à sua vontade.

No escuro vento vi várias sombras que passavam se lamentando e ao mestre perguntei:
- Mestre, quem são essas pessoas que o vento tanto castiga?

- A primeira, cuja história deves conhecer - explicou o mestre -, foi imperatriz de povos de muitas línguas. É Semíramis, a sucessora e esposa de Nino. A que a segue é a viúva de Siqueu, que se matou por amor. Ali tu vês Cleópatra, luxuriosa. Veja Helena, e também Aquiles, Páris, Tristão. - e, uma por uma, me indicou outras mil sombras que tiveram suas vidas desfeitas pelo amor.

- Poeta - eu falei - eu gostaria, se for possível, de falar com aqueles dois, unidos, que tão leves parecem ser ao vento.

- Espera - respondeu -, em breve estarão próximos de nós, e quando a fúria do vento diminuir, peça, pelo amor que os conduz, que eles virão.
Então, quando a tormenta cedeu um pouco, eu chamei:
- Ó almas sofridas, falai conosco, se isto for permitido! Elas ouviram, entenderam meu pedido. Deixaram o bando onde estavam as outras e se aproximaram. Uma delas falou:
- Ó ser gracioso e benigno, o que desejares ouvir ou falar conosco, nós ouviremos e falaremos, se o vento permitir. Nasci na terra onde o Pó deságua. Amor, que ao coração gentil logo se prende, tomou este aqui, pela beleza da pessoa que de mim foi levada, e o modo ainda me ofende. Amor, que a nenhum amado amar perdoa, prendeu-me, pelo seu desejo com tanta força que, como vês, ele ainda não me abandona. Amor nos conduziu a uma só morte. Caína aguarda aquele que tirou as nossas vidas.

Ao ouvir esse lamento, baixei o rosto, e permaneci assim, até Virgílio me despertar. Voltei novamente àquele casal, e perguntei:
- Francesca, o teu martírio me traz lágrimas aos olhos, mas dize-me, como permitiu o amor que tomásseis conhecimento de vosso sentimento recíproco?

Dante classifica o pecado da luxúria como o menos grave de todos, colocando-o no círculo mais externo. Isso é demonstrado também na compaixão que sente pelos pecadores, se emocionando com o relato de Francesca. A ventania é o contrapasso do pecado. Em vida, os amantes eram levados por suas paixões, que os arrastava como o vento que os arrasta no inferno.

- Não há maior dor, que lembrar da felicidade passada - disse ela - mas se teu grande desejo é saber, te direi como quem chora e fala. Líamos um dia a sós, sobre o amor que seduziu Lancelote. Várias vezes essa leitura nos ergueu olhar a olhar. Mas foi quando chegamos àquele ponto que falava do sorriso que desejava ser beijado por um perfeito amante, que este aqui que nunca me seja apartado, tremendo, beijou-me na boca naquele instante. Nosso Galeoto foi aquele livro e quem o escreveu. Desde aquele dia, não o lemos mais adiante.
Enquanto uma alma contava a sua história triste, a outra chorava sem parar ao seu lado, e eu, comovido de piedade e dor, desmaiei, e caí como um corpo morto cai.

Giovanni era um homem culto, porém de péssima aparência e tinha o corpo deformado. Guido sabia que Francesca não concordaria com o casamento de modo que o ele foi realizado por procuração através do irmão mais novo, Paolo Malatesta, que era jovem e bonito. Francesca e Paolo não demoraram a se apaixonar.

De acordo com Dante, Francesca e Paolo foram seduzidos pela leitura da história de Lancelote e Guinevere, e se tornaram amantes. Posteriormente foram surpreendidos e assassinados por Giovanni em Rimini (aonde o rio Pó deságua). Dante utilizou o romance de Lancelot, a fim de caber no âmbito do regime de amor poesia lírica, que emula Francesca no Canto V do Inferno.

Francesca diz que foram surpreendidos quando liam a lenda onde Lancelote, apaixonado por Guinevere (esposa do Rei Artur), é induzido a beijá-la por Galeoto. Galeoto, portanto, induz Paolo e Francesca a se beijarem também, quando são surpreendidos e mortos.

Os círculos da incontinência (círculos 2 a 5) são a morada daqueles que pecaram não por determinação de fazer o mal, mas por não conseguir controlar os impulsos, falhando assim na escolha do bem. Aqui são punidos os pecados da luxúria, da avareza e da gula.

Aqui termina o canto da semana, siga o blog para não perder os próximos cantos e outros textos!! 
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