terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Chá com Filosofia #5

 Ola, bem vindos ao Ágora do Pensamento, esta é a quinta edição da série Chá com Filosofia, onde temos uma conversa simples e leve sobre vários assuntos intrigantes no sistema de perguntas e resposta, mas não deixa de ser interessante e filosófica.

 Hoje, a conversa é um pouco diferente, eu vou tecer alguns comentários sobre uma frase que eu ouvi em uma fila ontem, a frase no contexto que foi dita, me criou uma repulsa que decidi compartilhar com vocês, e já vão entender o por quê.

 No final, quero que cada uma acrescente a sua opinião, assim, a discussão fica muito mais rico e divertido. 


Para quem não leu as sessões anteriores aqui estão os links:

Vamos lá!

  Estava eu na fila da cantina no intervalo da faculdade e duas pessoas à minha frente estavam conversando sobre uma gravidez não planejada, e uma falou:

- Foi acidente, mas era para ser assim, então está tudo bem. 

 Obviamente, que não me intrometi na conversa, mas notei que a frase não tinha lógica, chega a ser uma descrença na própria humanidade. Então quer dizer que, para essa pessoa, há uma força ou ser superior que já predetermina a vida das pessoas? Se tudo já está escrito nas páginas do destino para que gastar energia tentando mudar o mundo ou ser uma boa pessoa? Afinal, nada disso irá adiantar visto que o final do caminho já foi decidido.

 Fiquei indignado porque ao usar essa frase como uma certeza filosófica vai contra todos os princípios que levo nesta vida, tenho como verdade que cada ação que fazemos repercute positivamente ou negativamente (o karma budista). E, viver assim faz muito bem, porque você acaba fazendo o bem e como consequência recebendo boas energias.

 Eleger um Deus que influencie desta forma na vida, é tirar a responsabilidade dos atos de cada pessoa, e sabemos que para nos tornamos pessoas espiritualmente melhores temos que reconhecer nossos erros ( e aprendermos com eles).   

 Não é preciso ser ateu para seguir a filosofia de vida que eu sigo (nem acreditar em um), é apenas uma filosofia de vida que possui um conceito diferente de Deus, que respeite o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade de determinar suas ações e por consequência o seu futuro.


 Este texto também é para àqueles que não percebem que a filosofia está presente em nosso cotidiano, veja bem, só nessa conversa está presente diversas correntes filosóficas. Vejamos algumas: 

1. Determinismo: 

 "princípio segundo o qual tudo no universo, até mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma ilusão subjetiva" - Dicionário Houaiss

“a teoria segundo a qual tudo está determinado, isto é, submetido a condições necessárias e suficientes, elas próprias também determinadas” - Vocabulário de Filosofia
 Segundo esta teoria, os nossos desejos e as nossas escolhas não são realmente determinados por nós mesmos, e sim por elementos como instintos animais e sentimentos ou pela sua natureza histórico-social (leis, normas, costumes, moral), em tese faz sentido, porém não leva em conta outras causas que determinam o pensamento humano. 
 A teoria perde força porque esta corrente exagera no uso da casualidade, em outras palavras, supõe que as mesas causas, em circunstância iguais geram sempre os mesmos efeitos.

 O determinismo é dividido em três outras teorias, pré-determinismo, co-determinismo e pós-determinismo:
Pré-determinismo: Todos os efetios estão totalmente conectados em suas causas determinadas no passado. 

Co-Determinismo:  Funciona como a teoria do casos, no qual todos os efeitos podem interagir com outros efeitos causando uma realidade diferente das outras causas. 

Pós-Determinismo: As causalidades estão determinados por algum motivo, ou seja, há algo exterior, Deus ou Providência, que determina como será o futuro. 

 A nossa frase se encaixa no Pós- Determinismo, pois ao dizer era para ser assim, se pressupõe que existe uma vontade divina e exterior sobre o destino, o que contraria inclusive a doutrina cristã, sendo que o livre-arbítrio é uma regra nesta religião. 

2. Fatalismo Teológico


 Para essa teoria há uma contradição entre um Deus onisciente e o livre-arbítrio, se Deus é onisciente por consequência lógica é infalível, ou seja, sua vontade se concretizará, se ele quer que alguém engravide, esta pessoa vai engravidar, independente de quanta proteção usar. Assim, nesta tese, não há liberdade de escolha ( o que é um pouco angustiante, não concorda?).


E você? Qual é sua opinião? Nos decidimos livremente nossas ações ou há uma força exterior que decide por nós? Ou concorda com a pessoa da frase?

Participe!
Até a próxima, se gostou compartilhe!!

4 comentários:

  1. amigo,conforme relato biblico (não que eu acredite nisso)jesus subiu ao monte e orou/conversou com o deus, e la ficou sabendo sobre o seu futuro,sobre a traição de judas,sobre os açoites, Pedro renegar seu nome 3 vezes, a prisão condenação e crucificação e depois de 3 dias a ressurreição e ascensão aos ceus (com corpo e tudo),então, chegamos a conclusã0 que ,quem for cristão (que não é o meu caso) devera acreditar piamente em destino,pois deus (apesar do livre arbitrio de jesus era pra ter) tinha um roteiro completo de inicio meio e fim para a vida de jesus e de todas as pessoas na face da terra.Podem ate alegar : "é mas isso era só pra jesus " e eu vou responder : " aonde esta escrito na biblia que isso era só pra jesus?" Outro ponto interessante , é que , se deus ja sabia o que ia acontecer, é porque pra deus o que ia acontecer , ja aconteceu , devido a onisciencia , então jesus não teve livre arbitrio ,pois seu destino ja estava traçado por deus , e judas tambem não teve escolha senão trair , pois ja estava nos planos de deus que judas traisse jesus.

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    1. Boa contribuição, muito obrigado. Então em sua visão (da qual concordo e muito), a traição de Judas não era somente já prevista por Deus, mas como também fazia parte de sua vontade ou plano divino. Em outras palavras Jesus veio à terra com objetivo de ser sacrificado. Caso não fosse a vontade de Deus, simplesmente não ocorreria pois Ele é onisciente?

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  2. Olá João, primeiro quero agradecê-lo pelos comentários e atenções que tem dispensado aos meus textos. Agora algumas considerações pessoais a respeito do tópico aqui abordado. Antes acho relevante registrar que toda minha visão é puramente católica.
    1 - A respeito do livre-arbítrio, não estou certo se foi proclamado como dogma cristão. O fato é que São Tomás de Aquino, na suma teológica, concluiu que o livre arbítrio é um dom do ser intelectivo, ou seja, se conheço, logo decido. É muito comum, não só entre o ateus e seguimentos, mas até mesmo no conceito popular, uma visão equivocada de que tal atributo seja um direito. Quanto a onisciência de Deus e sua permissividade na ocorrência dos fatos, outra falha de interpretação é quanto a pré-destinação dos eventos. Há uma diferença entre ser responsável das ocorrências e delas ter o conhecimento. Deus não permite o mal, mas conhece-o. A vinda de Jesus Cristo foi necessária, porque verificou-se que nenhum ser humano tinha a capacidade para reparar a ofensa cometida pela humanidade quanto a obra da criação. A ofensa é medida pela dignidade do ofendido, logo, Deus só poderia ser ressarcido por alguma recompensa digna de sua beatitude. Coisa que homem nenhum poderia alcançar, a não ser que o próprio Deus se encarnasse e fizesse Ele mesmo o sacrifício. Sendo assim, Jesus, já nasceu sapiente de tudo que deveria fazer e sofrer para resgatar a possibilidade do homem alcançar a felicidade eterna, fim pelo qual foi criado. Jesus, nunca, em momento algum deixou de ser Deus, nem antes de seu nascimento no ventre da Virgem Maria, apenas Ele estava limitado por sua forma fisiológica que seguia as leis da natureza. Então, mesmo sendo ele um bebê, necessitava fortalecer seu corpo e esperar a idade correta para iniciar a sua pregação. Jesus poderia muito bem negar-se de consumar a sua missão, para isso, bastava que Ele negasse qualquer de suas ações. Entretanto Ele o fez por amor à raça humana e assim permaneceu fiel à sua missão e à seu Pai até que tudo fosse consumado. A Judas tambem fora dado a oportunidade, várias vezes, embora não fosse relatada nas Sagradas Escrituras de abandonar suas crenças e visões limitadas mercantilistas para render-se a verdade revelada. Mas ele foi fraco e achou que seria de mais valia, apesar de ter visto de perto os milhares de milagres e ouvido palavras de sabedoria incalculáveis, preferiu dar ouvido aos sacerdotes judeus, fato que o levou a cometer o perjúrio e a traição.
    Dito isso, acredito que o futuro individual é revelado a Deus conforme nossas atitudes e escolhas, e não que isso ou aquilo esteja já pré-determinado. As Sagradas Escrituras referem o futuro das sociedades, essas sim, já com o fim decretado, mas a nós seres humanos, seguimos o caminho que escolhemos.

    A frase destacada acima, concordo que a autora deve ter referido-se ao vaticínio de uma divindade, porém a atribuição que ela deve ter se referido não vem por uma ditadura profética que venha a determinar o destino de cada um, mas, que ela, enquanto um ser humano sadio e sexualmente ativa, estava propícia as leis de uma natureza sã e, por consequência, engravidou seguindo o curso normal de seu corpo fisiológico.

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    1. Também, desde já, lhe agradeço pelos comentários realizados no blog, não tenho o mesmo conhecimento que você quanto a religião católica, foi um acréscimo belíssimo. A questão levantada foi mais um repúdio a pessoas que utilizam-se de Deus como uma bengala, não assumindo a responsabilidade por seus atos.
      Concordo com o que você disse, na minha humilde opinião eu creio que apesar de Deus ser onipresente e onipotente, ele conscientemente permita que o mal exista, não como castigo mas como prova de sua bondade.
      Explico.
      Ele permite que as pessoas passem por dificuldades, pois é só assim que elas se tornam pessoas melhores. Até porque passar por dificuldades ensina muitas lições positivas, uma delas é que os homens devem unir-se e viver em harmonia.

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