quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A Divina Comédia de Dante Alighieri - Livro Inferno Canto VII


Ola, bem vindos a sequência do canto anterior do poema de Dante Alighieri, A Divina Comédia, no qual conta a aventura de Dante através dos círculos do inferno, do purgatório até chegar ao paraíso.
 Esta é uma série que publico semanalmente cantos comentados do poema ( no total de 100 cantos divididos em três livros - Inferno, Purgatório e Paraíso). Dante já atravessou o limbo, no Canto IV, local com pessoas que apesar de não terem pecados não merecem estar no céu ( sobre ótica da época). No canto V, passa pelo segundo círculo, o da luxúria que terminou com o desmaio de Dante.
No canto VI, passou pelo terceiro círculo, o da gula, lá encontrou vários personagens clássicos, como Cérberos, o cão de Hades, e o espírito de Ciacco, um famoso vivente antigo de florença, conhecido pela sua fome insaciável. Todos estes personagens possuem valores simbólicos, para saber mais leia o canto VI. o canto terminou com Dante encontrando Pluto ( Hades para os gregos). 

Leia os cantos anteriores:


  • Vamos ao Canto VII, lembrando que os trechos em vermelho e itálico são minhas anotações.

Canto VII

Pluto - Círculo da avareza (4)
Círculo da ira (5) - Rio Estige

Pluto (Plutão, Plutus), na mitologia romana, é o deus dos mortos - Hades, na mitologia grega. É associado à riqueza que brota do chão. Sua característica de deus infernal da riqueza, o coloca de forma adequada no quarto círculo, dos que não souberam lidar com a fortuna.

- Pape Satàn pape Satàn aleppe! - começava Pluto com sua voz rouca. Virgílio virou-se para mim e disse, com segurança:

- Não tenhas medo dele. Lembra-te que, por mais que ele tenha poder, ele não pode impedir nossa descida. - Depois, dirigiu-se a Pluto e gritou:

- Cala a boca lobo maldito! Consome em ti mesmo tua raiva. Nossa descida não é sem propósito, pois é algo que se quer nas alturas!


Diante daquela voz revestida de autoridade, Pluto mal pôde reagir. Logo fraquejou e diante de nós, tombou.

Aproveitamos, então, para descer pela beira que contorna o quarto círculo. Lá vi mais almas que em todos os círculos precedentes. Estavam organizadas em dois grupos que se enfrentavam, com os peitos nus, rolando grandes pesos em sentidos contrários até colidirem uns com os outros. Após o choque um grupo gritava "por que poupas?". O outro gritava "por que gastas?". Depois do choque seguiam em sentido contrário até se encontrarem novamente, do outro lado do círculo. E assim continuavam por toda a eternidade.

Com o coração pungido de desgosto, perguntei:
- Mestre, quem são essas pessoas? Eram padres essas almas que vejo aqui do lado, com corte de cabelos em cercilha?

- Todos - respondeu o mestre -, em sua vida terrena, não foram judiciosos com seus gastos. Isto declaram, quando se encontram nas suas culpas opostas. Esses de coroa pelada são clérigos, papas e cardeais, nos quais a avareza se manifesta mais facilmente.

- Mestre - falei - em um grupo como este certamente serei capaz de reconhecer alguém.

- É inútil a tua esperança. - respondeu o mestre - Sua vida sem conhecimento os tornou imundos e agora é mais difícil reconhecê-los. Eternamente se enfrentarão, aqueles de punho cerrado e aqueles outros sem cabelos. Mal dar e mal guardar os tirou do mundo, colocando-os nessa rinha. Mas não vale a pena mais falar deles. Vês, filho, como de nada adianta os homens brigarem pela fortuna? Pois todo o ouro que está ou já esteve sob a lua não comprará um minuto sequer de descanso para essas almas cansadas.

- Mestre meu - disse eu - me dize o que é a Fortuna de que agora falas? Como é que ela é, essa que guarda todas as riquezas do mundo em suas mãos?

Comentário de Salvatore Viglio (Frei Cassiano): "O tema da Fortuna não era novo. Os pagãos chegaram a endeusá-la e a dedicar-lhe templos. Ela distribui os bens da terra rotativamente por não poderem pertencer todos a todos ao mesmo tempo. Dela dependem o alternar-se de miséria e riqueza, de bem-estar e de penúria por que passam os indivíduos e as nações. É, em outros termos, a Divina Providência que os pagãos chamam de Fortuna. A sua existência explicaria assim o estado de miséria em que vivem freqüentemente os sábios e os bons, destituídos de bens materiais, mas ricos, em compensação, dos tesouros da sabedoria e da virtude.

- Aquele cujo saber tudo transcende - explicou-me o mestre - fez os céus e lhes deu quem os conduz, e cada esfera que brilha reflete sobre as outras, distribuindo igualmente a luz. Do mesmo modo, para as riquezas mundanas designou uma ministra para que ela cuidasse de permutar, de tempos em tempos, os bens profanos entre as nações e famílias, livres do alcance da cobiça humana. Então, enquanto uma nação impera, outra enfraquece, de acordo com o arbítrio dela, que é oculto como uma serpente na relva. Vosso saber não tem poder sobre sua lei, pois ela prevê, julga e rege sobre seu reino. E ela nunca pára. É amaldiçoada até por quem deveria louvá-la, mas como é beata, ela não os ouve, e continua a girar a sua roda eternamente.

"Cada esfera que brilha reflete sobre as outras": refere-se às esferas do Paraíso (os planetas, o sol, a lua e as estrelas). A Fortuna é comparada aos anjos (que cuidam do movimento dos planetas).
Não demoramos mais naquele lugar pois o dia já chegava ao fim, e nosso tempo era curto. Descemos então para o quinto círculo por uma vereda escura onde nascia uma fonte de água preta e fervente. Atravessamos o riacho e acompanhamos suas encostas através de um caminho estreito, até que chegamos finalmente às margens de um vasto pântano chamado Estige, onde o riacho desaguava.
Apesar da escuridão, pude ver, naquela água escura, vultos nus cobertos de lama remexendo-se, com feições iradas. Eles esmurravam-se com as mãos, batiam cabeças, se chutavam e arrancavam as peles uns dos outros com os dentes.

- Filho - disse o bom mestre -, aqui tu vês as almas dos vencidos pela ira, e vou dizer-te ainda, se me crês, que embaixo d'água há gente que suspira, fazendo-a borbulhar. São aqueles vencidos pelo rancor, a ira contida e passiva, porém igualmente destrutiva. Eles gorgolam o lodo e formam as bolhas que pipocam sobre esta lama fétida.
Depois demos uma grande volta, seguindo entre o rio e a orla seca, sempre observando aqueles que engoliam a lama, até chegarmos ao pé de uma alta torre, no final.
são amontoados no rio Estige juntos com seus semelhantes que não conseguiram controlar a raiva. São submetidos assim aos efeitos da ira causados por seus semelhantes, e então se mordem, se batem e se torturam. No fundo do Estige estão os rancorosos que, por nunca terem externado sua ira, não podem subir à superfície e ficam a gorgolar a lama no fundo do rio.
E aqui termina o canto da semana, caso tenha gostado siga o blog para não perder o Canto VIII, que sai semana que vem. no qual Dante e Virgílio farão a travessia do rio Estige.

3 comentários:

  1. Parabéns!
    Quero seguir com vc nesta viagem.
    Sucesso!

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  2. Como faço para seguir vc. Sou muito inexperiente em termos de comunidades, grupos e receio não saber encontrar sua página com os belos textos de Dante.

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  3. É muito simples, me adicione no google plus,
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