quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A Divina Comédia de Dante Alighieri - Livro Inferno Canto IX


 Ola bem vindos a mais um canto do poema de Dante Alighieri, a Divina Comédia, aventura épica onde Dante é guiado por Virgílio, grande poeta da antiguidade, através dos círculos do Inferno e do Purgatório até chegar ao Paraíso. Esta é uma série publicada semanalmente, um canto comentado por semana (no total de 100 cantos divididos por três livros).
 Dante já passou pelo Limbo (Canto IV), pelos círculos da Luxúria (Canto V), da Gula ( Canto VI), e pelos círculos da Avareza e da Ira ( Canto VII).
 No último chegaram a cidade de Dite, após atravessar o rio Estige na barca de Flégias. Porém foram recepcionados por um grupo de demônios que lhe barraram a passagem. O canto terminou com Dante e Virgílio esperando a chegada de um personagem misterioso que irá conceder-lhes a passagem. 

Vamos ao Canto IX




Erínias e Medusa
Círculo da heresia (6) - Túmulos

 O medo me tomou quando vi o semblante do mestre, que se aproximava, e dizia quase para si:

- Precisamos triunfar, se não... Mas não, ora! A ajuda nos fora prometida! Como demora!

Eu vi muito bem como ele mudou de tom ao tentar encobrir o que falara, ou a palavra que não havia pronunciado, por isso mais medo tive ainda, pois a frase que ele deixara incompleta, eu completei com sentido pior.

- Alguma vez já desceu, a estes círculos profundos do inferno, alguém do Limbo? - perguntei-lhe.
- Isto é raro - respondeu-me o mestre -, mas é verdade que eu mesmo já fiz esta viagem e desci até o círculo mais profundo, quando uma vez fui convocado. Não se preocupe, pois conheço bem o caminho.

Virgílio continuou a falar, mas, de repente, minha atenção se voltou para o céu onde vi três Fúrias infernais. Eram figuras femininas, ungidas de sangue e com serpentes ferozes no lugar dos cabelos. O mestre, que já conhecia as escravas de Proserpina, me apontou:

Proserpina: Filha de Zeus e de Demeter (deusa da agricultura) na mitologia grega. Foi raptada por Pluto (Hades) e se tornou rainha do mundo subterrâneo

- Olha! São as Erínias ferozes! Aquela é Megera, à esquerda, e aquela que chora à direita é Aleto. Tesífone é a do meio.


Erínias: são divindades do inferno segundo a mitologia grega e romana. Obedecem a Hades (Pluto) e a Perséfone (Proserpina).

Elas gritavam alto e com as unhas rasgavam o peito. Eu fui para junto do poeta, tomado pelo medo.
- Vem Medusa, vem! - gritavam - vamos transformá-lo em pedra! Que pena que deixamos Teseu escapar!

- Fecha os olhos e volta-te! - gritou Virgílio - pois se a górgona vier e tu olhares para ela, não haverá mais volta ao mundo! - e com estas palavras ele me virou de costas e, não confiando nas minhas mãos que já estavam sobre os olhos, colocou as dele sobre as minhas e lá as manteve.

De repente, ouvi um grande estrondo e uma ventania tomou conta do ar levantando poeira e fazendo um barulho assustador. Depois, o inferno começou a tremer. Ele então tirou as mãos dos meus olhos e disse:

- Agora vira-te e olha na direção do pântano, onde a bruma é mais espessa.

Olhei e vi mais de mil almas apavoradas no ar, fugindo, saindo do caminho de um ser que vinha, caminhando sobre o Estige, sem molhar os pés. Ele afastava o ar sujo com as mãos, e essa aparentava ser a única coisa que o incomodava. Eu tinha certeza, agora, que ele vinha do céu. Voltei-me para o guia mas ele fez um sinal para que eu permanecesse em silêncio.

O anjo chegou e tocou as portas de Dite com uma pequena vara, fazendo com que elas abrissem sem esforço.


- Ó almas mesquinhas - ele começou, sobre as portas da cidade sombria - por que resistis contra aquela vontade que nunca pode ser negada e que, mais de uma vez, só fez aumentar vosso sofrimento?

Depois de falar, voltou pelo mesmo caminho por onde tinha chegado. Nós depois prosseguimos, seguros por suas palavras sagradas, e entramos sem dificuldades pela porta principal.

Já dentro da cidade, encontramos um cemitério de tumbas abertas, de onde se ouvia o lamentar de muitas vozes que queimavam em brasa dentro das covas.

- Mestre - perguntei -, que sombras são estas que aqui jazem e que só podemos perceber pelos seus lamentos?

- São os hereges e seus seguidores. - respondeu-me Virgílio - Em cada tumba repousam os réus de uma mesma seita, que são torturados pelo fogo eterno.


Dite, como cidade dos mortos, contém um cemitério que abriga vários grupos hereges, entre eles, aqueles que não acreditaram na sua existência, como os seguidores das doutrinas de Epicuro, que negava a sobrevivência da alma após a morte corporal.
Dobramos, então, à direita, e continuamos a caminhar entre a muralha da cidade e as sepulturas.

O canto da semana acabou, espero que tenha gostado, siga o blog para não perder o próximo canto!

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